terça-feira, 27 de abril de 2010

Alegria que teme

Quando engravidei do Leo, mesmo tendo certeza, esperei semanas prá confirmar, um sinal de amadurecimento da minha ansiedade, fui confirmar com ultrassonografia, já de 12 semanas, quando das outras duas vezes a menstruação atrasava meia-hora e lá estava eu no laboratório coletando sangue, e prá minha alegria, positivo... mas que não se mantinha por muito tempo, todas as vezes o mesmo histórico, por volta de 11 semanas, sangramento discreto, escuro tipo borra de café, repouso 15 dias, medicada com progesterona e em seguida... nada nos exames, e então, nada além das curetagens, tristes, dolorosas, que levavam junto uma boa parte de mim, dos meus sonhos e da minha alegria sempre evanescente de ser mãe. E o pior ainda vinha depois, mandávamos o material da curetagem prá análise citopatológica e genética, tudo absolutamente normal... ou seja, sem respostas, sem porquês, simplesmente era necessário aceitar.


A ansiedade era tanta que certa vez, com poucos dias de atraso 2 ou 3, não me aguentei, comprei um teste de farmácia, fiz, deu positivo... como de costume, compartilhamos com a família, com os amigos. Liguei pro meu médico, marquei consulta, ele me disse, olha... exame de urina e nada prá mim é a mesma coisa, esse atraso é muito pequeno ainda, mas vamos confirmar com o Bhcg, dito e feito: negativo... Eu não sei que sensação foi pior, se as perdas que tive ou essa frustração, lembro de ter aberto o exame e ficado muda, paralisada. Lembro de como me senti incapaz, incompetente, envergonhada pelo equívoco. Passado isso, parei tudo e repensei, decidi não mais fazer disso uma busca, uma obcessão, aprendi que às vezes a gente quer tanto algo que somatiza e acho que foi isso que me aconteceu, sentia os sintomas. Fiquei tão revoltada com aquilo, conversei com meu marido e decidimos mesmo parar, viver. Voltei a tomar pílula, o que prá mim é péssimo, já que tenho um problema sério vascular, já passei por duas cirurgias e tive inclusive que extrair as safenas, como não aguentei a pílula acabamos optando por preservativos mesmo. E assim fomos por um bom tempo e confesso que passei a ver outras coisas, ver a vida de outra forma, ter um novo ânimo, trabalhava fora e muito, o que me ajudou de uma forma imensa. Até que um dia... brincadeira vai, brincadeira vem... não tinha preservativo, então no calor das emoções em 3s concluimos, já passou o período fértil, não dá nada... pois é, deu o Leo... kkkkkkkkkkkk, prova de que quando as coisas tem que ser... são!

 
Então concluo que a vida é isso mesmo... estranha, as coisas nunca acontecem na hora que queremos, do jeito que planejamos... Como eu já tinha passado pelas outras perdas, fiquei feliz e ao mesmo tempo em pânico, a cada ida ao banheiro o medo, de ver qualquer cor no papel higiênico que não fosse o branco... mantive minha alegria e expectativa em silêncio, não contei prá ninguém, fui contar pro meu marido já estava de 8 semanas, pelo fato mesmo de poupá-lo, sabia que não havia nada que pudéssemos fazer prá dar certo, a não ser crer. Tinha enjoos insuportáveis, sintoma que eu não havia sentido das outras vezes e isso me dava uma certa tranquilidade. Esperamos ainda passar o período crítico das outras perdas e só depois do ultrassom quando meu médico disse, dessa vez tem tudo prá dar certo... e eu desabei num choro compulsivo, só depois disso contamos prás famílias. Mesmo tendo sido uma gravidez maravilhosa, tranquila, estive tão calma, ainda assim foi permeada pela insegurança de que algo arrancasse toda aquela alegria de mim, da mesma forma que fora das outras vezes. Fui montar quarto, enxoval, com 7 meses, quando das outras vezes já tinha comprado um monte de coisas nas primeiras semanas.


Foi talvez um dos aprendizados mais doloridos que tive na vida, mas até os sentimentos amadurecem e desde então me vejo menos ansiosa, vivendo um dia de cada vez, sabendo dar valor ao que realmente tem valor, esperando a Mariana com o mesmo amor, com a mesma alegria, mas hoje muito mais segura, mais amadurecida como pessoa, como mãe e até mesmo como mulher. E até mesmo nesse momento, ela... Clarice Lispector, que diz muito de mim, transmite em uma frase tudo isso que senti e por vezes ainda sinto: "Que medo alegre o de te esperar".

4 comentários:

Patinha Arteira disse...

Que lindo esse blog, Tays!!
Acho que você ainda vai escrever um livro. Sério mesmo, um dia vai compilar esses textos, cortar aqui, aumentar ali... e vai gestar uma obra literária!
Eu me identifico muito com essas histórias. Sou muito parecida com vc em muitos sentidos, até nisso de perder e depois ter que administrar o medo... a gente acaba tendo medo de curtir, de ser feliz mesmo, pensando na possibilidade de perder tudo de uma hora para outra.
Talvez por isso eu morria de ciúmes dos meus bebês, só deixava pegar quem tivesse intimidade e lavasse muuuito bem as mãos antes.
Um grande abraço...

Tays Rocha disse...

Amigaaaaaaaaa, que bom ter me achado aqui ;o)
Eu? Livro? Não tenho talento prá isso não menina... só vou tagarelando pelos dedos, você esteve aqui em casa e viu como é a minha vida né? viu como é o meu jeito de falar e ser, é assim mesmo espevitado, minha testemunha ocular.. hahahah. O medo nos faz sofrer, mas de certa forma também nos impulsiona a superar, a mostrar prá nós mesmos que somos capazes, é dolorido, mas faz parte. eu também era uma chata de galocha, quer pegar minha cria? É do meu jeito... Posei de megera algumas vezes, nem ligo... o filho é meu e nele mando eu, né? E quem quiser que seja diferente, faça um e vá cuidar, no meu ninguém dá palpite e vai muito bem obrigada. Fiquei muitooooooo feliz de receber tua visitinha, saudades de você. Beijocas.

Anonymous disse...

Tays,Oh!!!!! que bom te reencontrar!! Tenho um presentinho para Mariana, foi feito com muito amor e carinho. Tenho teu endereço antigo , aquele que mandaste aquelas divinas guloseimas para mim, já mudastes de casa?

Parabéns pea Mariana !!! Um carinhoso abraço para o Leo.
Vanda.
byvanda2007@terra.com.br

Tays Rocha disse...

Vandinha! Que saudades de você, acabei de te mandar um e-mail, não sabe como fiquei feliz com teu contato... Beijocas.